Há muito tempo, quando eu era criança, sonhava com um futuro em que a tecnologia alcançaria seu auge. Mesmo muito jovem, já acreditava que um dia poderia aproveitar todas as possibilidades que a tecnologia teria a oferecer. Talvez isso fosse influência dos inúmeros filmes de ficção científica que assistia — toda aquela ambientação me parecia mágica e fascinante. Meu ideal infantil era viver em um mundo tecnológico, onde a vida seria mais fácil e prática.
Hoje, porém, me vejo diante de uma pergunta inquietante: "Devo me desconectar por completo?"
Acho que não sou apenas eu; muitas pessoas têm percebido que o excesso de informação proporcionado pela tecnologia transformou o mundo digital em um ambiente caótico. Todos os dias somos bombardeados com conteúdos e, mesmo com algoritmos ajustados para atender aos nossos interesses com base em nossos dados, muitas informações indesejadas acabam ultrapassando nossa "bolha".
Confesso que já cheguei a criar novas contas em redes sociais só para calibrar os algoritmos e receber apenas o que procuro. Ainda assim, conteúdos desnecessários, sem qualquer serventia, continuam a chegar até mim. Nem vou entrar na questão da coleta de dados e o quanto estamos expostos nas redes. Com nossos rastros digitais, aqueles que detêm poder sobre a internet podem fazer muito. Mas não é sobre isso que quero falar hoje.
A proposta deste texto é refletir sobre as informações que não desejamos e que, mesmo assim, chegam até nós — como uma forma de controle. Informações de todos os tipos possíveis, muitas delas baseadas em teorias da conspiração, escassez, medo, e outros estímulos que parecem projetados para nos desestabilizar.
Zygmunt Bauman afirmou uma vez que a velocidade e a quantidade de informação disponíveis hoje na internet são mil vezes maiores do que o cérebro humano pode processar. Ele também apontou que as redes sociais são armadilhas: elas não ensinam a dialogar e, frequentemente, reprimem nossas habilidades sociais.
Sempre gostei da internet, especialmente pela proposta de ter qualquer conteúdo à mão de forma rápida. No entanto, sociologicamente falando, isso tem se tornado um caos. "Qualquer" conteúdo pode causar danos irreversíveis à sociedade. A forma como nos comunicamos está em constante mudança. As gerações têm cada vez mais dificuldade de interagir com um entendimento mútuo. Isso tudo é culpa da internet? Não acredito que seja tão simples.
A internet é uma ferramenta que nunca teve um manual de instruções. Nunca fomos preparados para ela. Também precisamos lembrar que a internet e as tecnologias, como a inteligência artificial, não surgiram do nada. Há décadas, escritores como Isaac Asimov já previam os impactos da robótica e da IA. Não é de hoje que esses temas são discutidos na ficção científica. O problema é: por que empresas tomariam precauções contra algo que as beneficia?
Quando penso em um mundo sem internet ou com governos restringindo seu acesso, também não vejo isso como ideal.
Apesar de tudo, acredito que nosso dever como humanidade é aprender a usar as novas tecnologias de forma consciente e entender as consequências de nossas ações no ambiente digital. O mundo nunca foi, nem será, menos perigoso. Mas compreender como as tecnologias funcionam nos dá uma chance maior de nos proteger.