No post anterior, abordei sobre autonegação, sobre a vontade de validação e senso de pertencimento. Enquanto existem indivíduos que praticam autonegação, em contrapartida, há aqueles que precisam estar certos o tempo inteiro. É sobre isso que quero discutir no post de hoje: a questão do controle.
No mundo, existem indivíduos que podemos chamar de egocêntricos. E o que são pessoas egocêntricas? Elas veem o mundo através de suas próprias lentes, têm dificuldade de considerar as necessidades e o ponto de vista dos outros e, muitas vezes, se colocam em posição de vítimas da situação.
Isso é diferente de pessoas autocentradas, que são focadas em si mesmas e possuem uma autenticidade fortalecida. Por serem autofocadas e possuírem certo grau de autoconhecimento, conseguem olhar para os outros de forma empática, entender as nuances dos sentimentos alheios e até melhorar os ambientes. Isso se deve justamente pela presença de inteligência emocional nesses indivíduos.
Relato pessoal: Por que ter autoestima incomoda tanto as pessoas?
Em grande parte da minha vida, fui confundida com uma pessoa egocêntrica, simplesmente porque eu tinha uma autoestima razoavelmente saudável. Sempre fui muito autocentrada, focada nas minhas escolhas e no meu crescimento pessoal. Quando um indivíduo tem uma autoestima saudável e demonstra entusiasmo pela vida, quando ele fala sobre si com naturalidade, conhece os seus defeitos e qualidades, isso pode se tornar um verdadeiro pesadelo para aqueles que estão emocionalmente adoecidos. Durante muitos anos, eu cheguei a acreditar que, de fato, era egocêntrica. Me questionei diversas vezes, sobre o pôr que o meu entusiasmo era mal visto por outras pessoas. Foi preciso passar por muita terapia para compreender que as coisas eram justamente o contrário.
Aprendi em terapia que a maioria das pessoas enxerga a realidade de forma bastante deturpada. Muitas carregam uma baixa autoestima e não fazem nada para transformá-la. Para elas, ver alguém entusiasmado e em paz consigo mesmo funciona como um reflexo doloroso: mostra o que poderiam viver, mas não têm disposição ou força para alcançar. Afinal, construir uma autoestima saudável exige esforço, dedicação e trabalho interno.
Você pode estar lendo este meu relato agora mesmo e me percebendo exatamente da mesma forma que tantas outras pessoas já me viram: como alguém egocêntrica, exibida e com vários outros adjetivos negativos. Ou, ao contrário, você pode ter sua autoestima no lugar, estar em processo de amadurecimento interno e enxergar apenas uma pessoa narrando fatos sobre a própria vida.
Ao longo da vida, durante conversas, percebia que algumas pessoas gostavam de competir em opiniões, enquanto, para mim, o diálogo sempre teve o sentido de troca de conhecimento. Por isso, eu superestimava a maturidade de alguns, acreditando que estávamos no mesmo nível de entendimento. Até que percebi que não era bem assim.
As mesmas pessoas que me chamavam de egocêntrica ou egoísta por ser autofocada, faziam isso porque não tinham autoestima — e tentavam subverter a forma como eu me enxergava.
Para ilustrar o que é um comportamento egocêntrico, vou dar um exemplo simples: imagine uma criança que aprende, sem qualquer embasamento, que determinado objeto “não presta”. Ela viu essa informação na internet e acreditou cegamente. Quando os pais a confrontam, explicando o verdadeiro propósito daquele objeto, a criança reluta em aceitar, porque está presa à crença equivocada que formou. Esse é um comportamento típico de egocentrismo: insistir em uma opinião rasa, sem buscar aprofundamento.
Trazendo para os dias atuais, vemos isso com frequência. Pessoas de diversas idades têm acesso a uma avalanche de informações, mas não buscam se aprofundar. Em uma conversa, defendem suas opiniões como se fossem verdades absolutas, mesmo sem fundamento. E quando alguém mais autocentrado, com embasamento, traz novos pontos de vista, o egocêntrico parte para o ataque com a comunicação violenta, passivo-agressiva, porque não tem argumentos sólidos.
Ao longo da minha vida, sempre vivi isso. Não estou dizendo que possuo alto nível de inteligência, mas busquei formar minhas opiniões a partir de fatos e fontes confiáveis e não de algo superficial que vi no Twitter ou em redes sociais.
Imagino que vocês também já tenham passado por situações parecidas. Conviver com pessoas assim é difícil, porque elas constroem uma realidade rasa, baseada em emoções e não em fatos. Conversar com elas é desgastante, cansativo e, no fim das contas, não nos acrescenta em nada.
Por muito tempo (e acredito que muitos de vocês também possam se identificar), encontrei diversas pessoas de diferentes idades, algumas até dentro da família ou entre amigos, que carregavam essa característica: a de acreditar que são donas da razão. Pessoas que pensam que sua opinião é sempre a correta e que, muitas vezes, até com boas intenções, querem cuidar da gente, mas do jeito delas.
A questão é que essas pessoas não escutam. E talvez essa seja a parte mais difícil: conviver com quem não está disposto a ouvir. Todos nós já nos deparamos com esse tipo de comportamento e, talvez, alguns até se reconheçam nele. E não há motivo para sentir vergonha, porque provavelmente você foi socializado dessa forma. Mas isso não significa que precise permanecer assim para sempre.
Você pode escolher ser uma pessoa mais centrada em si mesma. Porque, quando buscamos nossa cura e fortalecemos nossa autoestima, deixamos de querer controlar a “verdade universal” e de tentar controlar tudo e todos à nossa volta.
O mito de que se priorizar é ser egoísta
Diversas pessoas no mundo sofre com baixa autoestima. Por conta disso, muitas não sabem quem realmente são; elas não têm consciência de que é fundamental ser centrado e construir uma autoidentidade para viver de maneira mais saudável. E por isso, há uma crença equivocada de que alguém autocentrado — alguém que conhece seu valor e se entende — é visto como egocêntrico.
Criou-se esse contexto que não é real: egocentrismo não é sobre focar em si de forma saudável, mas sobre ter baixa autoestima, ego elevado, acreditar que apenas a sua perspectiva é correta e ignorar as necessidades do outro. E principalmente, ignorar as suas necessidades emocionais.
Há uma grande diferença entre alguém que acredita estar certa por possuir a mente fechada e alguém que está focada em si mesmo, em se desenvolver, em lidar com seus interesses. Uma pessoa autocentrada muitas vezes é humilde, ouve bastante, evita confrontos quando possível, porque sua visão é mais ampla.
Então, é comum que quem não entende o que significa ser autocentrado distorça esse conceito, transformando autenticidade em algo negativo: “essa pessoa é egoísta”, “essa pessoa só pensa em si”. Mas isso é uma falácia.
E de onde vem a vontade dos indivíduos de controlar uns aos outros?
Uma coisa que sempre observei é que muitas pessoas têm o hábito de tentar controlar tudo ao seu redor devido aos próprios descontroles emocionais. Hoje, com o aumento dos transtornos mentais, como ansiedade e outros problemas relacionados, essa necessidade de controlar os outros e o ambiente se torna uma forma de lidar com o próprio descontrole. Focar em si mesmo parece muito mais difícil do que apontar problemas nos outros, e essa desconexão consigo mesmo é extremamente prejudicial, pois essas pessoas geralmente não se enxergam.
Outra coisa que sempre observei é a necessidade constante que muitas pessoas têm de performar uma bondade. Quando um indivíduo mais autêntico diz “não”, passa imediatamente a ser mal visto. Se a pessoa não se coloca no desconforto para satisfazer a vontade do outro, é considerada desumana. Isso acontece porque, na sociedade em que vivemos, a performance da bondade foi normalizada.
Mas performar não significa ser bom ou ético. A máscara continuará sendo apenas uma máscara. Um indivíduo verdadeiramente bom não precisa provar suas intenções: suas atitudes já refletem no bom comportamento, na educação e na postura íntegra que carrega.
Pessoas controladoras carecem de amor-próprio saudável e, muitas vezes, lidam com um ego elevado. Tudo que se acumula no ego acaba tirando espaço da autenticidade, do crescimento pessoal e do desenvolvimento espiritual. Por isso, essas pessoas não se valorizam verdadeiramente. Elas acreditam que precisam agradar os outros e se veem como salvadoras, fazem o bem apenas para performar e serem reconhecidas.
No entanto, mesmo quando o objetivo é praticar o bem, é fundamental perguntar se o outro deseja essa “ajuda”. Não se pode forçar afeto e nem ajuda com conselhos inconvenientes. É preciso ouvir e respeitar o desejo do outro, pois forçar algo muitas vezes reflete a necessidade de controlar a situação e não um ato genuíno de auxílio.
Esse tema sobre controle e egocentrismo é bastante delicado, e muitas pessoas não se reconhecem como tal. O apego às próprias opiniões e a crença de que apenas a sua forma de agir é correta não é saudável. Se você se identifica com isso, é importante entender que esse caminho é perigoso. Esses apegos são armadilhas do ego. Quando você se depara com a realidade, percebe que as pessoas não concordam com você e que não tem controle sobre tudo, a fortaleza do ego pode desmoronar, e você pode se sentir abalado. É como um castelo de cartas: se uma carta cai, todo o castelo irá desabar.
O caminho para a autenticidade e a superação do ego
A proposta deste post é sobre o retorno a si mesmo, sobre recuperar a própria autenticidade. Não entre em conversas apenas para ser validado ou para provar que está certo. Foque em melhorar a si, em desenvolver sua vida, sem se prender aos erros alheios. As pessoas vão errar, independentemente de tudo.
Errar, na verdade, não é necessariamente ruim. Quem erra muito em tentativas aprende mais rápido e consegue acertar mais cedo. Quando falo em erros, refiro-me a erros na tentativa de alcançar algo. Existe uma cultura de performance, especialmente nas novas gerações, onde as pessoas tem medo de errar. Mas tudo bem fracassar uma vez, duas vezes — isso não define você como fracassado para sempre. São apenas fases do aprendizado.
Se você deseja se tornar uma pessoa mais autêntica, é preciso compreender que precisará abrir mão do controle, tanto do controle que acredita ter sobre os outros, que, na verdade é uma ilusão, quanto do controle absoluto sobre cada detalhe da sua vida. A vida seguirá seu curso, independentemente dos nossos esforços. Claro, é importante ter planejamento, um plano A, um plano B, mas precisamos romper a ilusão do controle, pois frustrações surgirão, e elas existem justamente para nos aperfeiçoar como seres humanos.
Quando alguém desenvolve autenticidade e se entende dentro do universo e da sociedade, não entra em conversas apenas para ser validado. Não sente a necessidade de provar que está certo, porque compreende que suas opiniões podem ser pequenas, momentâneas ou nem sempre bem fundamentadas. Opiniões podem mudar, e isso não diminui a autenticidade de alguém. Pelo contrário, demonstra que uma pessoa autêntica sabe se adaptar ao novo e agir conforme o que entende ser melhor para sua vida.
Vejo que muitas pessoas têm medo de serem elas mesmas por conta de crenças negativas e limitantes. Pensam, por exemplo, que se colocarem em primeiro lugar serão egoístas ou deixarão de ser caridosas. Mas isso é uma grande mentira. Se você não se priorizar, não conseguirá amar genuinamente ninguém, nem sentir empatia ou compaixão de verdade. Primeiro precisamos sentir isso por nós mesmos para, depois, compreender o outro.
Muitas crenças bloqueiam nosso desenvolvimento de autenticidade, e quebrá-las exige prática diária. Não é algo que acontece da noite para o dia. Essas mudanças de mentalidade precisam se tornar hábitos, durante momentos de reflexão, meditação, ou quando você está sozinho pensando sobre a vida, debatendo consigo mesmo, reconhecendo suas falhas e aceitando seus acertos. Tudo isso exige esforço, e é por isso que muitas pessoas preferem manter a máscara social a viver plenamente sua autenticidade.
Quando falo de autenticidade, não quero dizer que você deva agir com vícios ou maus hábitos naturais da sua personalidade. Ser autêntico é ser ético, educado, respeitoso e consciente dos limites dos outros. Você pode ser você mesmo e ainda assim conviver em sociedade, aceitando que as pessoas são diferentes, e isso é saudável. Não há problema em se cercar de pessoas com temperamentos parecidos com o seu, mas o problema surge quando queremos ser validados mesmo tendo um mal comportamento, ou quanto tentamos controlar os outros, mesmo quando eles deixam claro o que desejam. Isso atrasa a nossa vida, porque vivemos tentando assumir o controle de algo que nunca foi nosso.
O intuito deste post é trazer reflexões sobre o tipo de vida que você tem vivido. Você tem se colocado em primeiro lugar, cuidando de si e controlando aquilo que diz respeito a você? Ou está olhando demais para os outros, focando no externo, esperando demais do que vem de fora e se deixando de lado?
Convido vocês a lerem os posts anteriores, pois a ler na sequência contribui para entender melhor a linha de raciocínio que estou trazendo. Cada post funciona como um capítulo, pensado para que um complemente o outro.
No mais, gostaria de dizer que o mundo não vai parar por nossa causa. Somos seres pequenos diante do universo, e se reconhecer como tal é o primeiro passo. Mas, por mais que não sejamos tão significativos no contexto universal, isso não significa que dentro do nosso próprio universo, do nosso consciente, não possamos nos tornar algo grandioso. Podemos nos tornar pessoas que admiramos, e, se conseguirmos nos admirar, acredito que isso já é suficiente.
Espero que vocês tenham gostado deste post e continuem me acompanhando, pois trarei um novo assunto para refletirmos juntos.