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No post de hoje, quero continuar nossa reflexão sobre controle e autenticidade. Anteriormente, falei sobre a ilusão do controle que podemos ter sobre nossa vida e a vida das outras pessoas, e sobre a importância de quebrar o ego para abrir espaço à autenticidade.

Hoje, o tema é aceitar o mundo como ele é. Isso significa acolher tanto suas perfeições quanto suas imperfeições.

Essa reflexão também tem muito a ver com frustrações. Quando nascemos e crescemos neste mundo, somos educados de uma maneira que nos torna bastante críticos, e até rebeldes, em diversos aspectos. Isso não é um problema por si só. O problema surge quando acreditamos que nosso “eu” é superior a ponto de achar que podemos submeter tudo e todos à nossa vontade. E isso, na prática, é impossível.

Essa expectativa de controle é, inclusive, uma das principais causas das frustrações que sentimos. Afinal, vivemos em um mundo com uma enorme pluralidade de culturas, valores e jeitos de ser. Por que, então, insistimos na ideia de que podemos mudar o que já existe?

Aceitar o mundo como ele é não significa conformismo. Significa reconhecer a realidade, abraçar suas nuances e, a partir daí, escolher nossas ações de maneira mais consciente e autêntica.


Relato pessoal: aprender a mudar de lugar quando não cabemos mais

Eu nunca fui conformista. Sempre fui rebelde. O mundo para mim era cheio de regras que considerava inúteis, mas, ao mesmo tempo, também não queria moldá-lo, porque sabia que isso seria impossível. Desde cedo, fui ensinada pelas negativas da vida. Então, a única coisa que eu podia controlar era o que dizia respeito a mim mesma.

Uma coisa que sempre me deixava inconformada era o modo como a criação feminina acontecia. Quando criança, eu pensava: por que nós, meninas, não podíamos correr e brincar como os nossos primos? Por que eu precisava usar brincos, mesmo quando doía e inflamava as minhas orelhas? Por que eu tinha que ficar quieta e não podia ser mais agitada ou brincar à vontade?

A criação feminina foi muito cruel para mim, porque, como criança, eu achava que poderia fazer tudo. Esse é apenas um dos aspectos que muitas crianças, provavelmente todas, sofreram. Na infância, somos submetidas a posições sociais impostas e muitas vezes nos sentimos moldadas por elas.

Já na vida adulta, mesmo sendo rebelde e não me conformando com a realidade, isso me trazia mais desafios. Algumas coisas eu aceitava; outras, não. Por exemplo, podia me conformar com certos comportamentos de pessoas, mas não com processos de trabalho ou regras de um emprego que não faziam sentido para mim. E, mesmo assim, muitas vezes eu continuava ali, dentro daquela estrutura.

Até que um dia percebi: a única coisa que eu realmente podia fazer era me mudar de lugar. Se eu não me sentia bem em determinadas amizades, empregos ou ambientes, como poderia mudar toda uma estrutura ou o modo de ser de outra pessoa? Nem tudo é sobre nós e nem tudo está sob nosso controle.

Às vezes, precisamos começar em empregos ou situações que não fazem sentido para a vida que queremos ter. Mas isso não significa abdicar da nossa identidade. Pelo contrário: muitas vezes, é um passo necessário para a nossa sobrevivência, enquanto criamos estratégias para o próximo passo.

A aceitação, então, é uma habilidade que precisa ser treinada. Não se trata de se moldar ao ambiente e perder a autenticidade, mas de desenvolver jogo de cintura para atravessar certas situações sem renunciar a quem você é.


Aceitar o mundo não é conformismo

Diante das minhas observações sobre o mundo, tenho visto muitas pessoas inconformadas. E eu entendo: de modo geral, o inconformismo vem de problemas sociais reais. É um inconformismo justo, pois muitas vezes essas pessoas simplesmente não aceitam a realidade que lhes foi imposta.

Mas existe uma linha tênue. Quando você utiliza suas frustrações, suas dificuldades ou as injustiças que enfrenta para atacar outras pessoas ou praticar atos imorais, porque não aceita o mundo como ele é, você não está se tornando alguém melhor. Você não está abrindo espaço para a sua autenticidade; você está dando lugar à fúria.

Quando pensei em escrever este post sobre aceitar o mundo como ele é, refleti muito. Aceitar o mundo não é conformismo. Sou totalmente contra a ideia de alguém se conformar com uma situação em que não se sente bem ou confortável. Aceitar o mundo é, na verdade, entender como ele funciona e desenvolver jogo de cintura para atravessar os problemas — porque eles sempre existirão, de uma forma ou de outra.

No mundo, haverá imperfeições, pessoas falhas, discursos ruins e negativos. Mas, ao mesmo tempo, percebo que aqueles que têm discursos positivos, que promovem debates construtivos e buscam transformar a realidade, muitas vezes não são ouvidos, por conta daqueles que semeiam caos.

A história mostra que muitos grupos, como mulheres, negros ou pessoas com deficiência, enfrentaram séculos de opressão. Hoje, vemos, mesmo que pouco, algum progresso, e acredito que o futuro trará avanços ainda maiores para diversos grupos. Isso acontece porque essas pessoas não se conformaram, mesmo enfrentando jornadas difíceis para reconquistar direitos que lhes pertencem.

Então, quando falo sobre aceitar o mundo como ele é, por mais contraditório que pareça, quero dizer que se trata de não bater de frente o tempo todo. É saber agir com moderação e com estratégia, cuidar de si, para que o impacto das dificuldades seja menor.


Estoicismo e autenticidade: encontrando harmonia no presente

No estoicismo, a ideia de aceitar o mundo como ele é significa compreender que o universo é regido pela Logos, uma ordem racional. Embora possamos controlar nossas ações e reações, não temos controle sobre muitos eventos externos.

Essa aceitação se baseia na harmonia com a natureza e na concentração na virtude interna, em vez de se prender à busca de resultados externos que estão fora do nosso alcance. O estoicismo enfatiza que devemos focar em controlar nossas ações e reações, e não tentar controlar eventos externos, porque isso, além de nos distrair, muitas vezes não leva a nada ou demora muito mais do que gostaríamos.

O estoicismo também incentiva viver no presente, concentrando-se no momento atual, ao invés de se preocupar excessivamente com o passado ou o futuro, pois essas preocupações trazem sofrimento que não está sob nosso controle.

Assim, essa busca de mudar o mundo, por mais justa e verdadeira que seja — esse inconformismo que mencionei anteriormente, e com o qual concordo — pode gerar estresse e frustrações para pessoas que ainda não desenvolveram plenamente sua autenticidade. É o mesmo ponto que tratei na edição anterior, sobre a ilusão do controle.

Embora algumas pessoas e grupos estejam conseguindo mudar mentalidades e impactar o mundo, essas conquistas muitas vezes vêm acompanhadas de muito esforço e fatores estressantes que poderiam ser atenuados se a sociedade soubesse dialogar.


Entre opiniões e preconceitos: o desafio da inteligência emocional

Hoje em dia, existe um grande problema relacionado à aceitação das diferenças. Muito se fala sobre aceitar diferenças, mas, na prática, isso nem sempre acontece. Por mais que se discuta a aceitação das diferenças físicas, um debate legítimo e necessário, atualmente há uma grande intolerância das pessoas em relação a diferenças culturais e ideológicas.

Percebo que pouco se fala sobre diferenças ideológicas e de opinião e como elas têm se tornado alvo de preconceito. Falta compreender que a diversidade de pensamentos é tão natural quanto a diversidade racial, religiosa ou cultural. O coerente para o ser humano é buscar essa aceitação.

Por mais que você não concorde com os princípios ou o modo de vida de outra pessoa, isso não significa que a vida dela não faça sentido. Cada indivíduo busca autenticidade e vive de acordo com o que considera certo para si. Se para uma pessoa faz sentido, por que julgar, criticar ou segregar, simplesmente porque não se encaixa na nossa própria visão de mundo?

Lidar com essas diferenças exige um nível elevado de inteligência emocional. E, infelizmente, muitas pessoas não querem desenvolver essa habilidade. Preferem debater para criticar, e não para aprender.


Aprender a se relacionar: consigo e com os outros

E, para concluir, eu gostaria de falar sobre aprender a se relacionar consigo mesmo e com os outros. Muitas pessoas não sabem se relacionar com os outros porque não sabem se relacionar consigo mesmas.

Essa compreensão de si, essa busca por autoconhecimento, é essencial para nos entendermos e, a partir daí, conseguirmos aceitar os outros e suas diferenças. Existe um nível muito grande de ignorância emocional. No passado, havia outras segregações mais evidentes; hoje, parece que a segregação se manifesta fortemente de forma ideológica e intelectual.

Muitas pessoas não se compreendem e não conseguem entender que alguém pode ser feliz vivendo de uma forma diferente da que elas escolheriam, e isso é totalmente compreensível, considerando a pluralidade de diferenças entre os seres humanos. Não conseguir compreender isso de forma lógica revela um nível de incapacidade emocional significativo, e essa falta de inteligência emocional tem adoecido muitas pessoas.

Portanto, eu questiono: será que o problema de fato é que não estamos aceitando o mundo como ele é, por que não aceitamos a nós mesmos?

Siga o Blog e deixe o seu comentário sobre o tema.

 

No post anterior, abordei sobre autonegação, sobre a vontade de validação e senso de pertencimento. Enquanto existem indivíduos que praticam autonegação, em contrapartida, há aqueles que precisam estar certos o tempo inteiro. É sobre isso que quero discutir no post de hoje: a questão do controle.

No mundo, existem indivíduos que podemos chamar de egocêntricos. E o que são pessoas egocêntricas? Elas veem o mundo através de suas próprias lentes, têm dificuldade de considerar as necessidades e o ponto de vista dos outros e, muitas vezes, se colocam em posição de vítimas da situação.

Isso é diferente de pessoas autocentradas, que são focadas em si mesmas e possuem uma autenticidade fortalecida. Por serem autofocadas e possuírem certo grau de autoconhecimento, conseguem olhar para os outros de forma empática, entender as nuances dos sentimentos alheios e até melhorar os ambientes. Isso se deve justamente pela presença de inteligência emocional nesses indivíduos.


Relato pessoal: Por que ter autoestima incomoda tanto as pessoas?

Em grande parte da minha vida, fui confundida com uma pessoa egocêntrica, simplesmente porque eu tinha uma autoestima razoavelmente saudável. Sempre fui muito autocentrada, focada nas minhas escolhas e no meu crescimento pessoal. Quando um indivíduo tem uma autoestima saudável e demonstra entusiasmo pela vida, quando ele fala sobre si com naturalidade, conhece os seus defeitos e qualidades, isso pode se tornar um verdadeiro pesadelo para aqueles que estão emocionalmente adoecidos. Durante muitos anos, eu cheguei a acreditar que, de fato, era egocêntrica. Me questionei diversas vezes, sobre o pôr que o meu entusiasmo era mal visto por outras pessoas. Foi preciso passar por muita terapia para compreender que as coisas eram justamente o contrário.

Aprendi em terapia que a maioria das pessoas enxerga a realidade de forma bastante deturpada. Muitas carregam uma baixa autoestima e não fazem nada para transformá-la. Para elas, ver alguém entusiasmado e em paz consigo mesmo funciona como um reflexo doloroso: mostra o que poderiam viver, mas não têm disposição ou força para alcançar. Afinal, construir uma autoestima saudável exige esforço, dedicação e trabalho interno.

Você pode estar lendo este meu relato agora mesmo e me percebendo exatamente da mesma forma que tantas outras pessoas já me viram: como alguém egocêntrica, exibida e com vários outros adjetivos negativos. Ou, ao contrário, você pode ter sua autoestima no lugar, estar em processo de amadurecimento interno e enxergar apenas uma pessoa narrando fatos sobre a própria vida.

Ao longo da vida, durante conversas, percebia que algumas pessoas gostavam de competir em opiniões, enquanto, para mim, o diálogo sempre teve o sentido de troca de conhecimento. Por isso, eu superestimava a maturidade de alguns, acreditando que estávamos no mesmo nível de entendimento. Até que percebi que não era bem assim.

As mesmas pessoas que me chamavam de egocêntrica ou egoísta por ser autofocada, faziam isso porque não tinham autoestima — e tentavam subverter a forma como eu me enxergava.

Para ilustrar o que é um comportamento egocêntrico, vou dar um exemplo simples: imagine uma criança que aprende, sem qualquer embasamento, que determinado objeto “não presta”. Ela viu essa informação na internet e acreditou cegamente. Quando os pais a confrontam, explicando o verdadeiro propósito daquele objeto, a criança reluta em aceitar, porque está presa à crença equivocada que formou. Esse é um comportamento típico de egocentrismo: insistir em uma opinião rasa, sem buscar aprofundamento.

Trazendo para os dias atuais, vemos isso com frequência. Pessoas de diversas idades têm acesso a uma avalanche de informações, mas não buscam se aprofundar. Em uma conversa, defendem suas opiniões como se fossem verdades absolutas, mesmo sem fundamento. E quando alguém mais autocentrado, com embasamento, traz novos pontos de vista, o egocêntrico parte para o ataque com a comunicação violenta, passivo-agressiva, porque não tem argumentos sólidos.

Ao longo da minha vida, sempre vivi isso. Não estou dizendo que possuo alto nível de inteligência, mas busquei formar minhas opiniões a partir de fatos e fontes confiáveis e não de algo superficial que vi no Twitter ou em redes sociais.

Imagino que vocês também já tenham passado por situações parecidas. Conviver com pessoas assim é difícil, porque elas constroem uma realidade rasa, baseada em emoções e não em fatos. Conversar com elas é desgastante, cansativo e, no fim das contas, não nos acrescenta em nada.

Por muito tempo (e acredito que muitos de vocês também possam se identificar), encontrei diversas pessoas de diferentes idades, algumas até dentro da família ou entre amigos, que carregavam essa característica: a de acreditar que são donas da razão. Pessoas que pensam que sua opinião é sempre a correta e que, muitas vezes, até com boas intenções, querem cuidar da gente, mas do jeito delas.

A questão é que essas pessoas não escutam. E talvez essa seja a parte mais difícil: conviver com quem não está disposto a ouvir. Todos nós já nos deparamos com esse tipo de comportamento e, talvez, alguns até se reconheçam nele. E não há motivo para sentir vergonha, porque provavelmente você foi socializado dessa forma. Mas isso não significa que precise permanecer assim para sempre.

Você pode escolher ser uma pessoa mais centrada em si mesma. Porque, quando buscamos nossa cura e fortalecemos nossa autoestima, deixamos de querer controlar a “verdade universal” e de tentar controlar tudo e todos à nossa volta.


O mito de que se priorizar é ser egoísta

Diversas pessoas no mundo sofre com baixa autoestima. Por conta disso, muitas não sabem quem realmente são; elas não têm consciência de que é fundamental ser centrado e construir uma autoidentidade para viver de maneira mais saudável. E por isso, há uma crença equivocada de que alguém autocentrado — alguém que conhece seu valor e se entende — é visto como egocêntrico.

Criou-se esse contexto que não é real: egocentrismo não é sobre focar em si de forma saudável, mas sobre ter baixa autoestima, ego elevado, acreditar que apenas a sua perspectiva é correta e ignorar as necessidades do outro. E principalmente, ignorar as suas necessidades emocionais.

Há uma grande diferença entre alguém que acredita estar certa por possuir a mente fechada e alguém que está focada em si mesmo, em se desenvolver, em lidar com seus interesses. Uma pessoa autocentrada muitas vezes é humilde, ouve bastante, evita confrontos quando possível, porque sua visão é mais ampla.

Então, é comum que quem não entende o que significa ser autocentrado distorça esse conceito, transformando autenticidade em algo negativo: “essa pessoa é egoísta”, “essa pessoa só pensa em si”. Mas isso é uma falácia.


E de onde vem a vontade dos indivíduos de controlar uns aos outros?

Uma coisa que sempre observei é que muitas pessoas têm o hábito de tentar controlar tudo ao seu redor devido aos próprios descontroles emocionais. Hoje, com o aumento dos transtornos mentais, como ansiedade e outros problemas relacionados, essa necessidade de controlar os outros e o ambiente se torna uma forma de lidar com o próprio descontrole. Focar em si mesmo parece muito mais difícil do que apontar problemas nos outros, e essa desconexão consigo mesmo é extremamente prejudicial, pois essas pessoas geralmente não se enxergam.

Outra coisa que sempre observei é a necessidade constante que muitas pessoas têm de performar uma bondade. Quando um indivíduo mais autêntico diz “não”, passa imediatamente a ser mal visto. Se a pessoa não se coloca no desconforto para satisfazer a vontade do outro, é considerada desumana. Isso acontece porque, na sociedade em que vivemos, a performance da bondade foi normalizada.

Mas performar não significa ser bom ou ético. A máscara continuará sendo apenas uma máscara. Um indivíduo verdadeiramente bom não precisa provar suas intenções: suas atitudes já refletem no bom comportamento, na educação e na postura íntegra que carrega.

Pessoas controladoras carecem de amor-próprio saudável e, muitas vezes, lidam com um ego elevado. Tudo que se acumula no ego acaba tirando espaço da autenticidade, do crescimento pessoal e do desenvolvimento espiritual. Por isso, essas pessoas não se valorizam verdadeiramente. Elas acreditam que precisam agradar os outros e se veem como salvadoras, fazem o bem apenas para performar e serem reconhecidas.

No entanto, mesmo quando o objetivo é praticar o bem, é fundamental perguntar se o outro deseja essa “ajuda”. Não se pode forçar afeto e nem ajuda com conselhos inconvenientes. É preciso ouvir e respeitar o desejo do outro, pois forçar algo muitas vezes reflete a necessidade de controlar a situação e não um ato genuíno de auxílio.

Esse tema sobre controle e egocentrismo é bastante delicado, e muitas pessoas não se reconhecem como tal. O apego às próprias opiniões e a crença de que apenas a sua forma de agir é correta não é saudável. Se você se identifica com isso, é importante entender que esse caminho é perigoso. Esses apegos são armadilhas do ego. Quando você se depara com a realidade, percebe que as pessoas não concordam com você e que não tem controle sobre tudo, a fortaleza do ego pode desmoronar, e você pode se sentir abalado. É como um castelo de cartas: se uma carta cai, todo o castelo irá desabar.


O caminho para a autenticidade e a superação do ego

A proposta deste post é sobre o retorno a si mesmo, sobre recuperar a própria autenticidade. Não entre em conversas apenas para ser validado ou para provar que está certo. Foque em melhorar a si, em desenvolver sua vida, sem se prender aos erros alheios. As pessoas vão errar, independentemente de tudo.

Errar, na verdade, não é necessariamente ruim. Quem erra muito em tentativas aprende mais rápido e consegue acertar mais cedo. Quando falo em erros, refiro-me a erros na tentativa de alcançar algo. Existe uma cultura de performance, especialmente nas novas gerações, onde as pessoas tem medo de errar. Mas tudo bem fracassar uma vez, duas vezes — isso não define você como fracassado para sempre. São apenas fases do aprendizado.

Se você deseja se tornar uma pessoa mais autêntica, é preciso compreender que precisará abrir mão do controle, tanto do controle que acredita ter sobre os outros, que, na verdade é uma ilusão, quanto do controle absoluto sobre cada detalhe da sua vida. A vida seguirá seu curso, independentemente dos nossos esforços. Claro, é importante ter planejamento, um plano A, um plano B, mas precisamos romper a ilusão do controle, pois frustrações surgirão, e elas existem justamente para nos aperfeiçoar como seres humanos.

Quando alguém desenvolve autenticidade e se entende dentro do universo e da sociedade, não entra em conversas apenas para ser validado. Não sente a necessidade de provar que está certo, porque compreende que suas opiniões podem ser pequenas, momentâneas ou nem sempre bem fundamentadas. Opiniões podem mudar, e isso não diminui a autenticidade de alguém. Pelo contrário, demonstra que uma pessoa autêntica sabe se adaptar ao novo e agir conforme o que entende ser melhor para sua vida.

Vejo que muitas pessoas têm medo de serem elas mesmas por conta de crenças negativas e limitantes. Pensam, por exemplo, que se colocarem em primeiro lugar serão egoístas ou deixarão de ser caridosas. Mas isso é uma grande mentira. Se você não se priorizar, não conseguirá amar genuinamente ninguém, nem sentir empatia ou compaixão de verdade. Primeiro precisamos sentir isso por nós mesmos para, depois, compreender o outro.

Muitas crenças bloqueiam nosso desenvolvimento de autenticidade, e quebrá-las exige prática diária. Não é algo que acontece da noite para o dia. Essas mudanças de mentalidade precisam se tornar hábitos, durante momentos de reflexão, meditação, ou quando você está sozinho pensando sobre a vida, debatendo consigo mesmo, reconhecendo suas falhas e aceitando seus acertos. Tudo isso exige esforço, e é por isso que muitas pessoas preferem manter a máscara social a viver plenamente sua autenticidade.

Quando falo de autenticidade, não quero dizer que você deva agir com vícios ou maus hábitos naturais da sua personalidade. Ser autêntico é ser ético, educado, respeitoso e consciente dos limites dos outros. Você pode ser você mesmo e ainda assim conviver em sociedade, aceitando que as pessoas são diferentes, e isso é saudável. Não há problema em se cercar de pessoas com temperamentos parecidos com o seu, mas o problema surge quando queremos ser validados mesmo tendo um mal comportamento, ou quanto tentamos controlar os outros, mesmo quando eles deixam claro o que desejam. Isso atrasa a nossa vida, porque vivemos tentando assumir o controle de algo que nunca foi nosso.

O intuito deste post é trazer reflexões sobre o tipo de vida que você tem vivido. Você tem se colocado em primeiro lugar, cuidando de si e controlando aquilo que diz respeito a você? Ou está olhando demais para os outros, focando no externo, esperando demais do que vem de fora e se deixando de lado?

Convido vocês a lerem os posts anteriores, pois a ler na sequência contribui para entender melhor a linha de raciocínio que estou trazendo. Cada post funciona como um capítulo, pensado para que um complemente o outro.

No mais, gostaria de dizer que o mundo não vai parar por nossa causa. Somos seres pequenos diante do universo, e se reconhecer como tal é o primeiro passo. Mas, por mais que não sejamos tão significativos no contexto universal, isso não significa que dentro do nosso próprio universo, do nosso consciente, não possamos nos tornar algo grandioso. Podemos nos tornar pessoas que admiramos, e, se conseguirmos nos admirar, acredito que isso já é suficiente.

Espero que vocês tenham gostado deste post e continuem me acompanhando, pois trarei um novo assunto para refletirmos juntos.


A premissa básica da autonegação se conecta diretamente ao que escrevi nos capítulos anteriores, sobre os traumas de abandono e rejeição. Muitas pessoas vivem de uma forma em que negam a si mesmas a própria felicidade.

E quando falo em autonegação, não significa que essas pessoas estão se negando tudo. O que acontece é que elas estão negando justamente o essencial, aquilo que poderia levá-las de volta ao seu próprio centro.

A autonegação é, no fundo, um processo de renúncia dos nossos desejos mais profundos. Geralmente, esses desejos não são os mundanos, mas desejos espirituais e individuais. Porém, devido ao inconsciente coletivo, acabamos anulando esses desejos para nos encaixar em um grupo, em uma sociedade ou em determinado contexto. Fazemos isso para não nos sentirmos sozinhos ou invalidados.

Essa negação de si acontece em situações simples. Vou dar um exemplo: você está em um grupo — pode ser religioso, estudantil, político, um grupo sobre hobbies ou de qualquer outra natureza. Para se sentir aceito, você sente a necessidade de concordar com aquele grupo, de seguir o que todos seguem. E, nesse movimento, você evita trazer à tona aspectos mais profundos de si. Prefere falar apenas do que coincide com o que é aceito ali dentro.

Você acaba deixando de expressar desejos, opiniões ou ideias que poderiam soar “impróprias” ou “estranhas” para aquele grupo. E, para caber ali, você anula partes suas.

Talvez, enquanto lê isso, você esteja exatamente nessa situação: em um grupo com o qual não concorda 100%, mas ainda assim evita se posicionar. Você não quer desagradar, nem ser o “excluído”. Quer que os outros fiquem felizes com você, mesmo que isso custe a sua própria autenticidade.

Mas já parou para pensar que talvez todos ali também estejam anulando partes de si mesmos, apenas para se encaixar no mesmo molde? Para caber no mesmo rótulo ou estereótipo?

E, afinal, o que existe de errado em ser diferente?

Quantas vezes você já teve uma opinião ou ideia válida, mas se calou porque achou que o grupo não aceitaria? Quantas vezes percebeu que até poderia contribuir com algo novo, mas preferiu silenciar, com medo de parecer “disruptivo demais”?

Essa repetição de silêncios e renúncias vai, aos poucos, minando a nossa energia. E, quando percebemos, já estamos vivendo uma tristeza silenciosa, resultado direto de negar a nós mesmos quem realmente somos.

Você vai ficando triste. Às vezes até parece que está satisfeito, porque, de certa forma, está tudo bem: as pessoas te aceitam do jeito que elas acham que você é. Está todo mundo confortável, o grupo flui.

Até que um dia você decide mostrar uma parte da sua autenticidade. E é nesse momento que as pessoas começam a apontar o dedo para você. Dizem que você está errado em pensar ou agir daquela forma. Mas eu te digo: você não está errado quando mostra quem você é. O que acontece é que, naquele instante, você deixa de ser um produto do grupo. Rompe a máscara do encaixe e revela a sua essência.


Entre rótulos e ideologias, o desafio de sustentar a própria autenticidade

Uma vez, ouvi uma psicóloga dizer uma frase que nunca esquecerei: “Quanto mais você se torna autêntico, mais esquisito você parece para a sociedade.”

E isso é verdade. Porque a sociedade, de forma geral, está acostumada a se organizar em grupos. E grupos sempre exigem rótulos. Para se encaixar, é preciso vestir uma etiqueta, caber dentro de uma caixinha.

Veja alguns exemplos: existem os grupos de fãs de bandas, como os roqueiros. Os grupos de quem pratica esportes, como surfistas ou corredores. Os grupos religiosos, como católicos, evangélicos, espíritas. Os grupos de investidores, empresários, e até grupos de ativistas. E dentro de cada grupo há regras ditas e não ditas. Se uma pessoa católica, por exemplo, resolve compartilhar novos conhecimentos sobre outra religião dentro da comunidade dela, é provável ser julgada, até rejeitada. Porque aquela ideologia foi estabelecida para manter todos dentro de um mesmo padrão.

E aqui entra a questão das ideologias. Eu, particularmente, não concordo com elas. Porque, no fundo, ideologia nada mais é do que um sistema de ideias que nasceu dos interesses de um grupo de pessoas. Muitas vezes, ideias que foram criadas há séculos e transmitidas de geração em geração. Só que, quando você adere a uma ideologia, ela não é a sua ideia. Você “compra” o pacote pronto. Pode até dizer: “Quero isso para mim”. E não há problema algum nisso. O que eu questiono é: você parou para analisar se essa ideologia realmente faz sentido para você?

Se fizer sentido, ótimo. Mas também é preciso entender que aquilo que faz sentido para você pode não fazer sentido para o outro. Por isso, eu prefiro falar em ideias do que em ideologias. Porque ideias são soltas, podem girar em diferentes contextos, se adaptar, evoluir e progredir. Ideias são vivas.

Quando você se abre às ideias, pode analisá-las à luz da sua autenticidade e decidir o que realmente vale a pena. Diferente de se prender a um conjunto ideológico que muitas vezes foi moldado em épocas de regimes rígidos ou até autoritários.


Militância, pertencimento e o custo psicológico da violência ideológica

O que eu tenho visto, dentro desse contexto de mundo polarizado, é que as pessoas subverteram a ideia de moral, trazendo conceitos ideológicos que podem ter como base tanto a religião quanto outras formas de ideologia. O conceito de militância, que é a prática de defender uma causa de forma ativa, passou a ser distorcido, transformando-se em um ataque pessoal a todos à sua volta.

O que vemos hoje na internet, são pessoas que entram em grupos nos quais precisam se sentir pertencentes, onde acreditam que seus argumentos serão validados. Elas precisam pertencer a esses grupos para não se sentirem sozinhas. Nesse contexto, para pertencer, acabam comprando a ideologia sem analisar ou estudar de fato sobre ela. Seja política, religiosa ou qualquer outra. Ainda assim, militam ativamente na internet para defendê-la, porém com um discurso e uma oratória extremamente violentos.

Essas pessoas atacam outros grupos com o intuito de mostrar que têm um posicionamento moralmente correto. E dentro do próprio grupo ideológico, não se pode contestar nada nem ter pensamento crítico. Pois, se alguém se destacar ou apresentar uma opinião que fuja da linha predominante, mesmo estando em concordância geral com a ideologia, também será vítima e alvo de ataques de comunicação violenta.

Veja que, em nenhum momento, eu digo que você, que faz parte de algum grupo ideológico, não pode expressar o que acredita ou opinar nas suas redes sociais. Muito pelo contrário, esse é o seu direito. Porém, o que você não pode e não deve, é atacar outras pessoas com argumentos violentos, com a intencionalidade de ferir o sujeito. Dentro de uma discussão, a intenção sempre deveria ser atacar o argumento, não a pessoa.

Um livro que eu recomendo, e que está sendo amplamente falado, é Comunicação Não-Violenta, do autor Marshall B. Rosenberg. Essa obra apresenta uma abordagem voltada para expressar e ouvir os outros de forma empática, honesta e sem julgamentos, com foco nas necessidades e nos sentimentos. Sua premissa é fortalecer os relacionamentos e promover a resolução de conflitos.

Com tudo isso que exemplifiquei, ao falar sobre como a militância nas redes sociais tem se tornado destrutiva, até mesmo para as próprias pessoas que a praticam, quero destacar que não apenas os praticantes sofrem, mas também aqueles que fazem parte dos grupos correspondentes. Nesses ambientes, cria-se uma ideia viciosa de segregação e autonegação, na qual as pessoas sentem que precisam concordar com a ideologia para se sentirem apoiadas e não serem atacadas. Isso acontece porque, dentro desses grupos, estabelece-se um consenso do que é considerado moralidade.

E não me refiro aqui a um grupo específico, mas a diversos grupos. Hoje, vivemos em um país polarizado, e essas comunicações violentas estão acontecendo em diferentes contextos. Pessoas estão sendo psicologicamente prejudicadas — tanto os que praticam a comunicação violenta quanto os que são mais passivos, os que apenas recebem e escutam.

Ainda sobre essa à questão dos grupos: essa vontade de pertencer é perigosa. Porque, em nome do pertencimento, muitas vezes nos anulamos por completo. Deixamos de fazer o que realmente queremos. Perdemos o contato com o nosso eu e deixamos de explorar a nossa história, os nossos talentos, os nossos desejos. Tudo para caber em um molde que talvez nem tenha nada a ver conosco.

Por isso, este capítulo sobre parar de negar a si mesmo é um convite para deixar de entrar em caixas que não são suas. Para parar de fazer coisas que você não aguenta mais fazer.

E também para começar a refletir antes de assumir compromissos ou papéis: 

“Será que isso é para mim? Será que não vão me obrigar a viver algo que não quero?”


Relato pessoal: Manter-se fiel a si mesmo em um mundo que insiste em nos moldar

Talvez você não se identifique totalmente com o meu relato, porque eu não me vejo exatamente dentro do mesmo contexto da maioria. Sim, eu me neguei por muito tempo, mas, como contei em outros posts, eu sempre fui muito decidida. Desde a infância, eu sabia quem eu queria ser e o caminho que queria trilhar.

Mas uma coisa sempre me chamou atenção: as tentativas de controle. Desde criança, eram aquelas perguntas constantes: “Por que você é assim?”, “Por que você escolhe isso?”, “Por que não brinca como as outras crianças?”. Até aí, tudo bem. Mas, quando cresci, comecei a perceber como isso se tornava ainda mais intenso e perigoso.

No trabalho, por exemplo, na cidade onde nasci, havia um estilo de musical muito popular, que praticamente todo mundo ouvia. Não é um estilo que eu aprecio e me identifico, mas as pessoas achavam estranho eu não gostar. Isso se repetia nas festas, nos carnavais, em convites sociais — onde eu, mais introvertida, preferia ficar em casa estudando ou cuidando das minhas coisas. A insistência para que eu me encaixasse naquele círculo era cansativa.

E aqui é importante dizer: não era porque eu não gostava das pessoas, ou não queria estar com elas. Eu apenas tinha outros interesses. Só que, quando você não segue o padrão, passa automaticamente a ser vista como “a do contra”, “a esquisita”, “a diferente”. E eu aceitei esse rótulo, porque para mim era mais importante ser eu mesma do que me forçar a viver algo que não fazia sentido.

Mas ao longo da vida também enfrentei situações que me afetaram profundamente e me fizeram negar partes de mim. Também já fiz muito e até passei anos me calando para não desagradar.

Já contei no capítulo 2 sobre os impactos da pobreza. E esse ponto é crucial. A pobreza cria um estigma: você só pode fazer o que todos daquele mesmo grupo fazem. Há uma categorização invisível, que dita até onde você pode ou não pode ir.

Mesmo quando existem opções gratuitas, como visitar um museu ou participar de um evento cultural, muitas vezes esses ambientes são vistos como “não pertencentes” a quem vem da pobreza. É como se você não tivesse o direito de estar ali, porque foi “feito” para viver dentro de um padrão: trabalhar em sub empregos, repetir a vida dos seus pais e não prosperar.

Não acredito que as pessoas façam isso de forma consciente. Na verdade, vem da falta de autoconhecimento. E o autoconhecimento está intimamente ligado à inteligência emocional, que é uma competência a ser desenvolvida, não um talento nato. Quem não busca esse desenvolvimento dificilmente alcança.

Outra questão, que também é uma forma de tentativa de controle e que mencionei acima ao falar sobre militância — e que sei que não acontece apenas comigo, mas também com muitas outras pessoas que provavelmente estão lendo este texto — é que, nesse contexto de mundo polarizado em que vivemos, diversas pessoas tentaram me convencer a assumir determinado lado ou a votar em determinado partido político nos quais eu não acreditava. Veja bem, ser olitizado não é sobre ter um partido em que você acredita religiosamente (não se trata de religião ou um time de futebol). Trata-se, na verdade, de compreender, de forma estratégica, qual candidato tem mais aptidão para o cargo que está sendo disputado. Afinal, estamos falando de um cargo que exerce autoridade. Eu não voto por ideologia; meu voto é puramente estratégico, baseado na análise de quem está realmente apto para ocupar aquele cargo. Então, para que alguém me convença de alguma coisa, no mínimo, essa pessoa precisa me apresentar argumentos lógicos, e trazer informações sobre economia, curriculo do candidato, ou me mostrar algo que eu não tenha percebido. Trazer apenas a ideologia e percepções emocionais do candidato, sem fundamentos históricos e qualquer base factual, para mim não faz sentido nenhum.

Ainda assim, pessoas que não tinham esse embasamento tentaram me convencer com ataques pessoais, o que para mim foi algo extremamente violento. Eu me senti profundamente atacada, porque atualmente, quando as pessoas militam, não atacam os argumentos, mas a pessoa em si. Querem te vilanizar, querem te colocar no lugar de “desumano”. E, se você não tiver firmeza de caráter e os pés fincados no chão, pode desabar, pode até entrar em conflitos internos por conta disso.

Sempre entendi que nós, como seres humanos, temos a responsabilidade e o direito de decidir o que é melhor para a nossa vida em todos os aspectos, desde que sejamos éticos.

Dentro desse contexto, eu não conseguia compreender por que algumas pessoas que eu considerava meus amigos tentaram me convencer a fazer algo que eu não concordo, ultrapassando assim os meus limites, com sucessivas tentativas de controle e coersão. Eu não iria negar a mim mesma, nem negar todo o conhecimento que adquiri, apenas para satisfazer uma ideia egocêntrica e ideológica de outras pessoas.

O que quero que você entenda com esse relato é que você pode buscar conhecimento por si mesmo, pode entender o que acha que é interessante para você, sem se submeter ao que os outros julgam como moralmente correto. O importante é ter autoconhecimento e firmeza de caráter para saber que está fazendo o que é certo, sem precisar se encaixar na caixinha que os outros tentam impor.

Esses são relatos simples, mas importantes, que reforçam que não precisamos viver para nos moldar às expectativas alheias. Sempre que tentamos nos encaixar, inevitavelmente, estamos negando alguma parte de nós mesmos.


As raízes da autonegação

Já que sabemos que a autonegação nasce da necessidade de agradar o outro, de se encaixar e de ser aceito, muitas vezes em detrimento dos próprios desejos e necessidades, vamos agora entender um pouco mais sobre suas causas.

Baixa autoestima

A pessoa pode não se sentir digna, acreditar que não tem valor e, por isso, acaba sempre se colocando em posição de valorizar os outros e fazer o que eles querem. Nesse processo, vai negando os próprios desejos e vontades.

Crenças negativas

Por exemplo, quando alguém é ensinado à servidão. A pessoa foi educada para servir, para ser a salvadora, para sempre ajudar os outros e se colocar em segundo plano. Esse tipo de crença pode levá-la a se negar constantemente.

Busca por validação

A necessidade constante de aprovação geralmente nasce de traumas de abandono ou rejeição. A pessoa busca se validar por meio dos outros e, em consequência, acaba se negando para atender expectativas externas.

Contextos religiosos e ideológicos

Como já mencionei acima, muitas vezes as pessoas compram ideologias de servidão e aceitação do que é dito por um grupo, sem poder contestar. Assim, ficam presas dentro desse contexto, vivendo em autonegação.

Além desses pontos, existem diversos outros motivos que levam as pessoas a se colocarem nesse lugar de autonegação.


Então, como sair da autonegação?

Diante de tudo isso, surge a pergunta: como podemos sair da autonegação? O que podemos fazer para parar de negar a nós mesmos aquilo que nos é merecido?

  1. Desenvolver autoconsciência
    Precisamos entender quem somos e nos aceitar com nossas falhas e imperfeições. É necessário parar de acreditar que somos vítimas o tempo inteiro, pois todos nós temos sombras e limitações, como qualquer outro ser humano. Aceitar essas falhas é o primeiro passo para trabalhar em nós mesmos e caminhar em direção a ser a pessoa que admiramos, como já mencionei antes, a pessoa que realmente queremos ser.

  2. Reconhecer os sentimentos
    Observar e compreender os próprios sentimentos. Sempre que surgir a necessidade de agradar alguém ou buscar validação, é importante identificar quais emoções estão por trás dessas atitudes.

  3. Colocar-se em primeiro lugar
    Essa talvez seja uma das tarefas mais difíceis: deixar de viver apenas para o outro e escolher fazer por você. Isso tira um peso enorme das nossas costas. Claro, há exceções — como cuidar de uma criança, de um parente ou de alguém em situação de vulnerabilidade (mas essa realidade não precisa ser permanente). Mas, fora isso, lembre-se: as outras pessoas não são sua responsabilidade. Empatia é fundamental, mas até ela tem limites. Exagerar na empatia pode causar transtornos e não significa que você seja menos humano ou solidário por priorizar a si mesmo.

  4. Buscar ajuda profissional
    A terapia,seja psicanálise ou TCC, pode ajudar a compreender comportamentos, mudar padrões, lidar com traumas e gatilhos, além de desconstruir crenças de autonegação e de necessidade de validação. Esse é um passo essencial para viver de forma mais saudável.

  5. Sair de grupos que anulam sua identidade
    Esse é, provavelmente, um dos pontos mais difíceis, mas também dos mais libertadores. Muitos grupos arrastam as pessoas para baixo sem que elas percebam, moldando-as lentamente para se encaixar em padrões impostos. Com o passar do tempo, é comum que alguém deixe de se reconhecer, vivendo de maneira despersonalizada, como reflexo daquilo que o grupo esperava. É preciso observar se os grupos que você frequenta realmente fazem sentido para a sua vida e se contribuem para o seu crescimento pessoal.

Nesse post, trouxe bastante informações, não apenas os porquês da autonegação, mas procurei esmiuçar em detalhes, fazendo referência ao que vem acontecendo na atualidade. Minha intenção é levantar questionamentos que talvez estejam acontecendo com você neste exato momento.

Pode ser que, ao ler, você perceba que nada disso faz sentido para a sua vida — e está tudo bem. A proposta do post não é apontar o que é certo ou errado, mas sim provocar reflexão.

Nos próximos textos, vou continuar explorando o tema da autenticidade, e espero que você siga me acompanhando nessa jornada.

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Muitas vezes a gente deixa de fazer algo, ou até mesmo de pensar em algo, já antecipando a perda. Diversas vezes não nos sentimos merecedores de estar naquele lugar, de estar com aquelas pessoas, ou de pertencer e ser a pessoa que queremos ser, justamente por conta do medo da perda.

Esse capítulo tem tudo a ver com o anterior, sobre os traumas de rejeição e abandono. Porque, no fundo, são esses traumas que nos engatilham e nos fazem carregar esse medo constante de perder.

É muito difícil crescer em um ambiente de pobreza mental, onde à nossa volta as pessoas têm medo de alcançar coisas que nunca viram ninguém alcançar. É complicado desenvolver uma mentalidade forte nesse cenário. A gente cresce ouvindo os paradigmas que os outros colocam como verdades absolutas, e o que é “possível” ou o que a gente “merece”.

Mas quando somos crianças, acreditamos que podemos tudo. Principalmente em um mundo globalizado como o de hoje, onde na escola somos incentivados a sonhar com o que vamos ser quando crescer. E, de fato, nós podemos. Eu, pelo menos, acredito nisso. Mas o caminho é longo e árduo — dependendo da história de vida de cada pessoa, do ponto de partida de cada um e de onde cada um quer chegar.

O maior problema de trilhar esse caminho é quando as pessoas à nossa volta nos fazem acreditar que só conseguiremos ir até determinado ponto. Porque não temos referências próximas de quem foi além.

Esse capítulo não é apenas sobre “chegar a algum lugar” ou conquistar algo material. É, principalmente, sobre ser a pessoa que você quer ser. Sobre conquistar a autenticidade que você deseja. Se quando criança você sonhou em se tornar um adulto de determinada forma, é esse adulto que você precisa acreditar que pode ser. Não no que as pessoas, durante a sua infância, disseram que você deveria se tornar.

Falando ainda mais sobre o medo da perda: já comentei que ele vem diretamente ligado aos traumas de rejeição e abandono. Mas o medo, em si, também é um trauma. Pense comigo: por que sentimos medo de perder algo que ainda nem temos? Esse é, de fato, um grande dilema.

E eu posso responder: porque existe dentro de nós uma mentalidade de não merecimento. O não merecimento é a crença profunda de que você não é digno daquilo que deseja. E é justamente aí que está a raiz desse paradigma.


Relato pessoal: O peso dos ‘porquês’ que nunca fizeram sentido

Desde criança eu sempre sabia o que queria. Não porque alguém me disse, mas porque eu via na televisão, nos livros, no mundo, e achava interessante para mim. Crianças sempre sabem que são merecedoras, e isso é algo genuíno da infância. Mas, ao longo do tempo, conforme os traumas acontecem, elas vão se reprimindo, se restringindo, deixando de acreditar nesse direito de sonhar.

Então, eu sempre fui uma criança decidida. Nunca tive grandes dificuldades em fazer escolhas. Mas ao meu redor sempre diziam que tudo era muito difícil, muito complicado. E, quando eu perguntava os porquês, as respostas eram vagas: “porque a gente é pobre”, “porque ninguém que você conhece conseguiu”, “porque é assim que as coisas são”. Esses porquês nunca foram coerentes para mim. Afinal, se existem pessoas que conquistavam as coisas que queriam, por que eu não poderia?

Cresci nesse ambiente de escassez, entre dilemas e mentalidade de não merecimento. E, com isso, nasceu em mim a síndrome do impostor. Essa sensação de que, mesmo estando prestes a conquistar algo, eu era uma fraude.

A síndrome do impostor é exatamente isso: quando você sabe que tem tudo para conseguir, mas começa a acreditar que não é competente, que não é capaz, que não é merecedor. Esse pensamento não é realmente seu. Ele é fruto da escassez, da mentalidade que os outros colocaram em você, das limitações e frustrações que eles viveram.

E, por muito tempo na minha juventude, eu carreguei isso. Uma nuvem de negatividade sobre mim mesma. Pensava que não era merecedora, que não iria conseguir, que tudo era muito difícil.

Mas, em um dado momento, vi uma rachadura e me dei conta que nem eu acreditava nisso. Essas ideias foram inseridas em mim por outras pessoas. Pessoas que viveram suas próprias dores e traumas, e, inconscientemente, projetaram em mim. Quando entrei nesse nível de consciência, percebi que, quando criança, eu não acreditava em nada disso. Aos poucos, fui me reconectando com a minha versão que acreditava, que sonhava, que não tinha medo de desejar.

Quando, de fato, essa ficha caiu, eu parei de acreditar no que os outros falavam sobre o que eu poderia ou não poderia almejar. E isso só aconteceu após muita leitura — livros de diversos: filosofia, sociologia, autoajuda, literatura clássica — além de vídeos de psicólogos, artigos sobre psicologia e estudos do comportamento humano. Quando finalmente entendi um pouco de como funciona a mentalidade humana diante da escassez, do abandono e da rejeição, consegui dissipar aquela mentalidade que me aprisionava.

Hoje, entendo meu merecimento. E percebi que ele não consiste em ter ou conquistar algo apenas por mérito concreto, mas em algo muito mais profundo: um merecimento humano. Eu acredito que todos os seres humanos merecem tudo aquilo a que se propõem. O merecimento é algo muito íntimo, pessoal. Se você acredita que merece algo, então de fato você merece, porque vai se colocar em situações e em caminhos que vão te levar até lá.

Todo ser humano merece não estar em situações de pobreza e de escassez e uma vida digna. Mas, para além disso, quando falamos dos nossos sonhos e da vida que queremos construir, o merecimento é individual. É sobre aquilo em que você acredita para si.

E não, não estou falando sobre meritocracia. Muito pelo contrário. A meritocracia é mais um dos muitos paradigmas criados para limitar pessoas. A crença em si mesmo é o ponto de partida.

Sei que, ao dizer isso, algumas pessoas vão dizer que estou sendo contraditória. Mas as pessoas a quem meu conteúdo realmente se dirige, irão entender. Elas vão pensar, vão refletir e questionar. Porque acreditar em si não significa ignorar que o caminho é difícil. Pelo contrário: você sabe que vai exigir suor, vai exigir sacrifícios. Talvez você precise acordar mais cedo, talvez precise mudar toda a sua vida para chegar onde deseja. Eu também ainda não cheguei lá. Mas, mesmo assim, acredito indubitavelmente que o ser humano que se propõe a algo, vai conseguir, independentemente de tudo.


O seu merecimento não precisa de validação

Acho que o maior problema é que as pessoas confundem a questão do merecimento individual com palco e atenção para si. É natural que todo ser humano que cresceu com o trauma da falta de atenção projete isso, buscando validação externa, afinal, não recebeu esse olhar na infância.

Por isso, muitas pessoas acreditam que precisam se provar o tempo todo. Acreditam que alguém, ou alguma instituição, vai dizer se elas são merecedoras ou não. Assim, ficam esperando que a sociedade diga quem elas são, em vez de colocarem seus próprios valores na mesa. Mas o merecimento não tem nada a ver com o palco que vão te dar. Por isso, existe tanta confusão acerca do assunto. Quando geralmente se fala sobre merecimento, as pessoas logo apontam o dedo e dizem: “Você está sendo meritocrática.”

Merecimento não é sobre uma disputa com as outras pessoas para se provar para o mundo. Na verdade, isso é egocentrismo. Quando eu falo sobre merecimento, quero dizer exatamente isso: o seu merecimento individual, aquilo que você acredita para si.

O ponto é que o seu merecimento é só seu, uma competição íntima. E é isso que as pessoas não entendem. É muito desleal com você, ter que competir o tempo inteiro com 8 bilhões de pessoas para pensar que você merece algo. Você não acha?

Então, se você precisa que alguém valide o seu merecimento, no fundo, você não acredita nele.

Sim, nós, como seres coletivos, construímos muito da nossa identidade a partir do outro. Mas isso não precisa ser uma regra definitiva. O que eu proponho aqui, nestes posts, é justamente um retorno a si mesmo: compreender sua autenticidade e o seu merecimento a partir daquilo em que você acredita, e não do que a sociedade diz que você merece. Afinal, a sociedade tem uma lista pronta de rótulos e expectativas. Dizem que, para “se tornar alguém na vida”, você precisa alcançar determinados padrões de sucesso. Mas, de fato, a nível individual, o seu merecimento tem a ver com o que você realmente quer.

E talvez você não queira o que a sociedade espera. Talvez você não queira ser rico, ou ter um diploma de doutorado. Talvez você não queira uma carreira que se encaixe no molde de “sucesso” que vendem. Talvez o seu sucesso seja ter uma casa simples. Talvez o seu sucesso seja ter uma família. E isso é suficiente e valioso, pois é o que você almeja.

Então, não se limite em pensar que o seu merecimento é ditado pelas regras dos outros. Porque a única pessoa que pode dizer o que você merece e sustentar isso de verdade, é você mesmo.


Quando você se torna quem deseja ser, o medo da perda perde espaço

Nós precisamos sempre almejar ser alguém que nós mesmos admiramos. Para creditarmos que merecermos o que desejamos, primeiro precisamos nos tornar a pessoa que gostaríamos de conviver. Porque quando somos pessoas que nós mesmos respeitamos, tudo se torna mais leve. Mas se nos tornamos alguém que nem gostaríamos de ter por perto, uma pessoa amarga, antipática, negativa, como vamos nos sentir merecedores de alguma coisa?

Para finalizar, quero dizer que todo individuo merece tudo o que esse mundo pode nos proporcionar. Mas nada vai se tornar real se você não crer, e por mais que isso possa soar como algo místico, é como dizia Platão: tudo começa no mundo das ideias. Se você não tem a ideia, se não planta a semente no campo mental, nunca vai conseguir extrair nada para o concreto.

E para além de tudo o que falei aqui sobre merecer e sobre como isso se conecta diretamente ao medo da perda: acredite em você e dê a você mesmo o seu devido crédito. Torne-se primeiro a pessoa que você deseja ser. E, com isso, você vai começar a acreditar mais em si, vai construir uma mentalidade de merecimento, e o medo da perda não terá mais espaço.

Eu espero que o post de hoje traga algumas reflexões e que te ajude a pensar sobre a sua autenticidade.

No próximo post, eu quero abordar um pouco sobre o que podemos fazer para parar de negar a nós mesmos, o que já nos é de direito.

 

No post anterior dessa série de posts sobre a busca da autenticidade, abordei sobre como a pobreza pode transformar a nossa mentalidade. Mas, neste texto, quero falar sobre algo diferente: os traumas de rejeição e abandono. Eles são marcas que todo ser humano está suscetível a carregar desde o nascimento.

Além de termos que lidar com a escassez, com os paradigmas da pobreza e com as limitações impostas ainda na infância, nós também enfrentamos outro desafio: as feridas do abandono e da rejeição. E isso não tem nada a ver com classe social.

O medo de não se encaixar e o medo de ser deixado de lado são sentimentos assustadores. Eu consigo compreender bem esse peso. E talvez seja justamente por causa dele que tantas pessoas se esforçam tanto para serem aceitas em ambientes onde, no fundo, já não cabem mais.


Entre o silêncio e a necessidade de provar quem somos

Ao longo da vida, percebi que as questões do abandono e da rejeição se manifestam de formas diferentes para cada pessoa. Para alguns, os traumas de abandono são mais evidentes; para outros, os de rejeição falam mais alto.

Notei que quem carrega de forma mais latente o trauma do abandono tende a não se esforçar tanto para se encaixar (isso não é um fato preciso). Quando tenta, geralmente faz isso de maneira silenciosa, buscando agradar de forma sutil. Já quem tem feridas mais ligadas à rejeição, parece viver com uma necessidade constante de provar algo, de se provar o tempo inteiro para os outros. Muitas vezes, essa busca por validação pode até resvalar no egocentrismo, uma defesa criada para lidar com o medo de não ser aceito.

Essas inseguranças que nos acompanham na vida adulta, muitas vezes têm origem lá atrás: em pequenas rejeições, na falta de validação na infância, em crescer em ambientes críticos e hostis demais, sendo tratados com acidez e com pouco ou nenhum afeto. Para quem viveu dessa forma, pode até parecer “normal”, mas a verdade é que essas marcas acabam moldando nossa forma de enxergar a nós mesmos e ao mundo.

E aí surgem pensamentos como: “Se eu sumisse agora, alguém sentiria minha falta?” ou “Será que eu realmente não sou bom o suficiente?”. Esses questionamentos não aparecem do nada. São ecos de experiências que viraram cicatrizes invisíveis e que nos acompanham sem que a gente perceba.

Eu mesma já vivencie situações assim. Entrei em relacionamentos de amizade querendo mostrar a minha versão mais autêntica, mas recuei diante do julgamento. Muitas vezes, mesmo quando a gente tenta ser verdadeiro, acaba sendo podado por outras pessoas que também carregam seus próprios traumas e acreditam que criticas acidas é algo normal.

O resultado? Alguns se calam e deixam de se expressar. Outros, por outro lado, exageram na autoexpressão, impondo sua presença de uma forma dura ou agressiva, quase como se dissessem: “Essa é a minha personalidade e vocês vão ter que me aceitar!”. Mas, no fundo, nenhuma dessas posturas é saudável.

Sem perceber, entramos em relacionamentos conflituosos, ora em constante oposição para não sentirmos a rejeição, ora em silêncio para sermos aceito. Em ambos os casos, acabamos nos abandonando e nos rejeitando.

É doloroso admitir, mas essa dinâmica faz parte da experiência de todo ser humano em algum nível. A diferença está em trazer essas feridas para a consciência. Só assim podemos parar de repetir os mesmos padrões e começar a nos relacionar de uma forma mais inteira, mais nossa.


Relato pessoal: O desconforto de impor limites

Eu sempre fui uma criança muito quieta. Desde cedo, entendi que podia fazer tudo sozinha e que estava tudo bem assim. Não gostava de criar problemas para mim mesma e nem para os outros.

Hoje, olhando para o meu processo de autoconhecimento, percebo algumas falhas que carreguei por muito tempo. Eu nunca fui de tentar me encaixar, mas sempre permiti que as pessoas ultrapassassem os meus limites. Fazia isso para evitar ter que dizer coisas difíceis, porque para mim, impor limites era desconfortável.

Com o tempo, entendi que, se para os outros é confortável ultrapassarem os meus limites, mesmo quando eu os verbalizava de forma sútil, então, infelizmente, eu precisava ser mais firme. Apesar de não gostar dessa imposição mais severa, sei o quanto ela é necessária para preservar a minha autenticidade.


O silêncio também é abandono

Quando a gente se cala diante de uma situação que nos afeta profundamente e pensamos: “Não quero demonstrar que estou incomodado”, no fundo, estamos dizendo a nós mesmos: “Eu não me importo comigo”. E isso é uma violência contra si.

É impossível passar pela vida sem ser afetado por algo ou alguém. Todos, em algum momento, sentimos dor, incômodo, raiva ou humilhação. Fingir que não nos importamos só para não demonstrar vulnerabilidade também é um tipo de autoabandono.

Enquanto algumas pessoas fazem de tudo para serem aceitas e acabam se desmontando, se tornando versões distantes do que realmente são, existem outras, como eu, que permaneceram fiéis a quem são por dentro, mas deixaram de se expressar para não lidar com o desconforto de impor limites.

No entanto, hoje compreendo que precisamos sim colocar os nossos limites sobre a mesa, independente do que os outros vão pensar. Quem está bem consigo mesmo não precisa moldar a própria vida para agradar. E se nós almejamos agir de forma ética ou moral, o que as pessoas pensam sobre nós, não é problema nosso.

Quantas vezes você já entrou em um relacionamento tentando ser exatamente aquilo que a outra pessoa queria? 

Quantas vezes você se calou para não ser julgado? Ou tolerou menos do que merecia, deixando que ultrapassassem seus limites, só para não ficar sozinho?

A ciência mostra que isso não é à toa. Estudos de ressonância magnética revelam que o cérebro responde à rejeição da mesma forma que responde à dor física (Eisenberger et al., 2003). Ou seja: ser rejeitado machuca literalmente.

E segundo a teoria do apego, de John Bowlby, experiências precoces de abandono, sejam reais ou emocionais, moldam os “modelos internos” que usamos para julgar os relacionamentos futuros. Quem foi negligenciado ou desvalorizado aprende cedo que o afeto é condicional. Que, para ser amado, precisa se moldar.

Mas isso não é verdade.

O amor, quando é de verdade, não exige que a gente se desfigure para caber. Ele precisa ser gratuito, independente dos nossos erros ou imperfeições. Não significa que iremos conseguir amar qualquer pessoa, mas significa que o amor não deveria ser condicionado à nossa performance.


Entre rótulos, culpas e a busca por si mesmo

Nem sempre o abandono é explícito. Às vezes, é o pai que estava em casa, mas nunca de fato presente. A mãe que cuidava, mas não escutava. O amigo que estava por perto, mas nunca enxergava. Esses silêncios, essas ausências, também deixam marcas.

E a rejeição, quando é internalizada, se torna autoabandono. Aos poucos, você começa a se rejeitar antes mesmo que alguém o faça. Passa a acreditar que aquilo que disseram sobre você era verdade. Foi o que aconteceu comigo. Na infância e adolescência, eu não tinha uma autopercepção clara. Então, quando me colocavam culpas ou rótulos, eu acreditava. Até que, mais tarde, comecei a me entender melhor e percebi que eu não precisava me tornar o que os outros diziam que eu era.

Esse processo de se olhar com honestidade, aceitando falhas, sombras e luzes faz parte do autoconhecimento. A gente não pode abandonar os próprios desejos, vontades e talentos apenas para caber em um grupo ou agradar alguém. 

E se estamos aqui, vivos, é porque temos um caminho de autoaperfeiçoamento. Nós nascemos sozinhos e nossa trajetória, no fundo, também é individual. Isso não significa viver na solidão. Significa compreender que a jornada do autoconhecimento é íntima, e precisa ser feita de dentro para fora.

Claro, existem armadilhas emocionais que nos travam. Quem carrega traumas graves de abandono e rejeição pode:

  • desenvolver hiperdependência, acreditando que não consegue fazer nada sozinho;
  • ter dificuldade de confiar nos outros;
  • buscar aprovação o tempo todo;
  • ter medo do sucesso, achando que não vai dar conta;
  • ou até se colocar constantemente no papel de vítima.

Muitos também têm medo da intimidade emocional, seja com amigos, parceiros ou até consigo mesmo.

Mas este texto não é sobre culpar quem nos feriu. É sobre trazer luz ao que sentimos e que ninguém nos ajudou a nomear. E sobre reconhecer que não precisamos repetir as mesmas reações, nem sustentar o mesmo ciclo.

Você pode criar novos vínculos, novas formas de amar e de se amar.

Os caminhos que te trouxeram até aqui não precisam ser os mesmos que vão te guiar daqui para frente.

A gentileza que você sempre esperou do mundo, você pode começar a oferecer para si mesmo, e para o adulto que um dia foi criança e não teve esse cuidado.

E se você gostou deste post, continue acompanhando os próximos textos aqui no blog. Vou compartilhar mais reflexões sobre autenticidade, autoconhecimento e centralização do eu.

“O bambu que se curva ao vento, mas nunca se quebra.” — Provérbio Chinês

 


Quem nunca ouviu aquele relato interno que diz: “Você não pode querer mais.”
Eu não lembro a primeira vez que ouvi isso, mas lembro de como eu me senti. Aquelas frases que não precisam ser ditas diretamente, porque estão nas entrelinhas dos olhares, nas pausas dos adultos, nos “conselhos” disfarçados de proteção.

Eu cresci em um lugar onde tudo era contado: o dinheiro, as palavras, até os sonhos. E desejar algo maior do que aquilo que a gente tinha era visto como ingratidão. Humildade era quase um tipo de apagamento. Quanto menos você queria, mais “honesto” parecia ser. Parecia que o sofrimento era um tipo de virtude. Como se viver com pouco fosse mais puro, mais digno.

Lembro de uma vez, criança ainda, dizer que queria morar em outro país. Nem era um plano, era só um pensamento leve, daqueles que nascem quando a gente olha paro céu. A resposta foi curta: “Acorda para realidade.”

Quase sempre ouvia isso, e eu fui percebendo que sonhar alto assustava. Eu sempre gostei de coisas “estranhas” par o lugar onde cresci. Música clássica, livros, obras de arte.

Coisas que pareciam deslocadas no meio de vida das pessoas a minha volta. E o que eu sempre ouvia era: “Você tem gosto de rica, mas você é pobre.”

Era como se minha identidade precisasse caber na minha renda. Como se gostar de beleza fosse um tipo de traição de classe. E foi aí começou o meu conflito: Como ser quem eu sou num mundo que me ensinou a me moldar o tempo todo?

Por muito tempo, eu tentei caber ali, e quanto mais eu tentava, mais eu desaparecia. Porque querer ser aceita me fazia diminuir. Esquecer.


O problema não era o sonho, era o que me fizeram acreditar sobre ele

Na minha infância, tudo parecia ser possível. Se eu gostasse de algo, minha lógica era simples: "Se eu trabalhar, eu posso conquistar isso." Não existia o “não pode”. Existia o “ainda não”. Eu sabia que não iria ser fácil, mas sempre pensei que se fosse possível, eu queria tentar.

Mas com o passar dos anos, comecei a ouvir tanto que meus desejos eram “coisa de gente rica” que algo em mim quebrou. E quando quebrou, entrou a síndrome do impostor.

Passei a achar que eu precisava pagar para merecer pertencer. Nas amizades, no trabalho, nos ambientes, sempre sentia que eu devia algo, como se minha existência fosse uma dívida aberta. Como se eu só pudesse estar ali oferecendo algo em troca. 

A pobreza, no meu caso, não foi só ausência de dinheiro, foi uma educação emocional baseada na contenção. Na ideia de que gostar de si era egoísmo. Que desejar mais era falta de consciência de classe.

Aos poucos, isso se transformou em algo mais profundo: comecei a acreditar que eu era “demais”. Que eu incomodava. Que eu não podia ter certos gostos. Nem certas ambições. E eu precisava viver de acordo com o que esperavam de mim, ou, pelo menos, não sair demais do esperado.

E foi assim que fui me podando. Silenciosamente. Delicadamente. Mas sempre me cortando um pouco.

A pobreza como identidade imposta

Existe algo que as pessoas não gostam de falar: a pobreza também forma uma estética emocional.

Ela se torna uma persona. Vira filtro de visão e medida de valor. Você aprende que não deve desejar, não deve querer demais e não deve incomodar com a sua ambição. É de senso comum dentro da própria classe que uma pessoa pobre não pode ambicionar. 
“Quem muito quer, tudo perde.”
“Para que isso tudo?”

“Melhor pouco com Deus do que muito sem Ele.”

Quando alguém tenta sair do padrão, vem o julgamento disfarçado de moralidade:

São frases que parecem sábias no primeiro momento, mas que, na prática nos ensinam a ter vergonha de desejar. Começamos a achar que felicidade demais é falta de humildade e que querer algo diferente é deslealdade com as nossas origens.

Mas eu quero dizer uma coisa que precisei de muitos anos para entender: Nós não somos ingratos por querermos mais. Somos humanos, e o nosso desejo é a forma mais viva da esperança.

Quando você começa a se calar para não incomodar

Houve momentos que eu me anulei porque senti que as coisas que eu queria eram demais, demais para aquele ambiente, para aquelas relações, para aquele trabalho.
Então, em diversos momentos eu tentei caber em lugares apertados. E caber demais é desaparecer.

Até nas amizades, eu vivia como se precisasse pedir desculpas por tudo. Me adaptava ao limite dos outros e esquecia dos meus próprios. Mas, lá dentro, uma parte minha nunca se calou completamente. Mesmo pequena, mesmo desacreditada, ela insistia:

“Essas ideias não são suas. Você não precisa repetir o que ouviu.” Era o que eu pensava bem lá no fundo.


A escassez como herança emocional

O problema não é só o que falta, é o que nos fazem acreditar que jamais teremos. A escassez se torna uma mentalidade. E isso passa de geração para geração como se fosse cuidado.

“Seja simples.”

“Não sonhe alto.”
“Quem você pensa que é?”
O resultado? A gente começa a se sabotar. A recusar elogios. A diminuir as nossas conquistas.
A viver no modo sobrevivência, mesmo quando já poderia estar vivendo.

E isso é mais comum do que parece. É um padrão. Um script. Um looping emocional.


Romper com isso dói. Mas não romper dói mais.

Chegou um momento da minha vida em que continuei financeiramente simples, mas emocionalmente decidi parar de ser pobre. Não porque passei a ostentar, mas porque comecei a me curar.

Curar o medo da rejeição. Curar a ideia de que eu precisava merecer para pertencer. Curar a culpa de querer algo bonito para mim e de querer poder viver a vida que eu sempre quis.

Foi nesse momento que entendi: o meu valor não estava em nenhuma conta bancária. Sempre esteve no meu caráter e tudo o que eu precisava era apenas me permitir e aprender a capacidade de não me diminuir para caber em lugares pequenos demais para mim.


O fim do ciclo

Esse texto não é sobre “ter dinheiro” ou “ficar rico”. Não é para você se envergonhar de onde veio. Mas para você não permitir que isso defina onde vai parar. O seu valor não vem da sua origem.

Então, assim como eu, quero que recupere o direito de sonhar, mesmo que ninguém te entenda. Se permita desejar com autenticidade, sem culpa, sem vergonha. O mundo não precisa de mais gente repetindo dores herdadas. Precisa de gente com coragem de quebrar o ciclo.

Se você se viu em alguma dessas linhas…Se alguma parte sua doeu ou se reconheceu… Talvez esteja na hora de voltar para si também. A ruptura começa quando a gente para de repetir, e começa a se escutar.
Mesmo que aos poucos.
Mesmo que tropeçando.
Mesmo que em silêncio.

Mas sempre, sempre, voltando para o nosso centro.

Se você gostou desse post, veja os temas que quero abordar nos próximos posts sobre esse assunto:

  • Traumas de rejeição e abandono
  • Medo da perda
  • Sobre parar de negar seu próprio valor
  • Sobre s desvincular do ego e da falsa sensação de controle
  • Aceitar o mundo como ele é
  • Recusar mediocridades
  • Estabelecer limites
  • Ser autêntico
  • Lidar com dinheiro
  • Ter sonhos ousados
  • Viver o amor-próprio, de verdade

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Sou escritora e minha formação é Licenciatura em Letras e tenho um profundo interesse por Sociologia e Filosofia. Atualmente, atuo na área de Marketing, explorando estratégias, comunicação e comportamento humano. Minha trajetória é guiada pela busca constante por conhecimento, reflexão crítica e pela conexão entre ideias, pessoas e contextos sociais.


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