[Resenha] Flores para Algernon, Daniel Keyes - Uma discussão marcante sobre o capacitismo intelectual

by - dezembro 31, 2022

Livro: Flores para Algernon

Autor(a): Daniel Keyes

Editora: Aleph

Sinopse: Uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI do paciente. Charlie Gordon, um homem com deficiência intelectual severa, é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. O experimento é um avanço científico sem precedentes, e a inteligência de Charlie aumenta tanto que ultrapassa a dos médicos que o planejaram. Entretanto, Charlie passa a ter novas percepções da realidade e começa a refletir sobre suas relações sociais e até o papel de sua existência.

Delicado, profundo e comovente, Flores para Algernon é um clássico da literatura norte-americana. A obra venceu o prêmio Nebula e inspirou o filme Os Dois Mundos de Charlie, ganhador do Oscar de Melhor Ator, um musical na Broadway e homenagens e referências em diversas mídias.

“Estava tudo bem enquanto eles pudessem rir de mim e parecer inteligentes à minha custa, mas agora eles se sentiam inferiores ao imbecil [...] Eu os havia traído, e eles me odiavam por isso.”

Resenha:

Flores para Algernon conta a história de Charlie Gordon, um homem de 32 anos com deficiência intelectual que é convidado a fazer um experimento de aumento de QI. Apesar das suas restrições, Charlie tem uma força de vontade de aprender e de se tornar inteligente. Ele acredita que com o aumento da sua inteligência, ela possa fazer amizades e ter conversas mais profundas.

Sendo assim, Charlie se torna quase uma “cobaia” de um experimento que promete revolucionar a ciência. Ele será o primeiro indivíduo a fazer essa cirurgia, sendo que o único ser vivo em que a cirurgia deu certo é Algernon, um rato de laboratório que apresenta resultados excelentes.

 O livro é narrado em primeira pessoa, em uma espécie de diário pessoal de Charlie, chamado: Relatórios de Progressos. Esses relatórios são datados e com eles nós podemos acompanhar a evolução da escrita de Charlie e dos seus pensamentos. No começo, os relatórios são repletos de erros de ortografia, mas depois da cirurgia, ele vai aperfeiçoando não apenas a grafia das palavras, como também o vocabulário e a estrutura de seu texto.

A cirurgia é um sucesso, e com o tempo, acompanhamos a evolução de Charlie. Ele também passa por sessões de terapias, hipnoses e consultas neurológicas periodicamente. O cérebro de Charlie começa a absorver o conhecimento cada vez mais rápido, até o ponto dele saber mais que os próprios cientistas e acadêmicos.

Doutor Strauss e Professor Nemur são os cientistas que conduzem os experimentos. Tendo eles papeis importantes na vida atual de Charlie.

Ao mesmo tempo em que Daniel Keyes mostra a inocência de Charlie antes da sua cirurgia, ele também nos mostra o homem se redescobrindo por inteiro. Antes, Charlie não entendia sobre a vida, sobre os sentimentos, as pessoas e sobre ele mesmo. Aos poucos, com o seu amadurecimento, ele se choca com as duas realidades que viveu.

Charlie relembra o passado e enxerga-o de forma diferente, analisando a sua vida e redescobrindo a sua história. Ele entende o preconceito que sofreu desde a infância e, o que eu achei mais importante nesse livro, a dualidade entre ser uma pessoa deficiente e ser um intelectual. 

Há duas facetas sendo contadas no livro, de forma brilhante posso dizer. Quando Charlie entende que quando se tornou intelectual, as pessoas começam a ignorar ele, com despeito, por se sentirem inferiores a ele. E quando ele lembra que era ignorado anteriormente quando não entendia sobre o que acontecia ao seu redor.

O seu lado emocional não está preparado para acompanhar suas descobertas e sua percepção de mundo, por isso novas reflexões e antigos traumas passam a perturbar o personagem.

Sobre a escrita de Keyes , fica claro que ele escolheu a melhor abordagem para nos contar a história de Charlie. Apesar do texto fácil, Flores para Algernon não é uma leitura leve. As vivências de Charlie são tristes e cruas. O final não é feliz, mas é o esperado pelo próprio Charlie que aceita o seu destino.

O livro traz uma discussão sobre capacitismo intelectual. É triste ler sobre a ingenuidade de Charlie e perceber o seu sofrimento nas lembranças do passado. É uma leitura necessária, recomendo bastante para todos. 

 

 


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