[Resenha] Laranja Mecânica, Anthony Burgess - Alex é um indivíduo perverso por si próprio ou as circunstâncias que o rodeiam o transformaram no que ele é? (COM SPOILER)


Livro: Laranja Mecânica

Autor: Anthony Burgess

Editora: Editora Aleph

Sinopse: Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex - soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica" é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo.

“A tradição da liberdade significa tudo. As pessoas comuns deixarão isso passar, ah sim. Elas venderão a liberdade por uma vida mais tranquila.”

Em Laranja Mecânica, Anthony Burgess aborda sobre a sociedade inglesa distópica, onde os jovens praticam a ultraviolência.

Alex é uma adolescente violento, ele e a sua gangue de druguis atormentam a cidade a noite.

Em Londres, os jovens possuem uma linguagem própria chamada nadsat. Todos os jovens não pensam no futuro, são indisciplinados e tem mentes vazias.

Alex narra a história em primeira pessoa utilizando a linguagem das gangues (Burgess como linguista, usou como referência as gírias da Rússia e da Inglaterra da época). A princípio, a história narrada dessa forma, parece um pouco vazia, mas a intenção do autor é nos ambientar no mundo de Alex.

Desde muito jovens, os garotos dessas gangues já praticam a ultraviolência. Alex é o mais novo do seu grupo de druguis e se considera o mais esperto. Ele conhece um pouco da cultura clássica, tem grande paixão pela música de Beethoven e a música clássica o inspira atos violentos. Alex se vê como um líder esperto, ele manipula os pais e os amigos.

A noite, Alex e os seus druguis praticam a ultraviolência e acham graça disso. Eles espancam, estupram, vandalizam, roubam. O autor narra todos os atos de violência com bastante detalhes, mesmo com a linguagem das gangues, nós conseguimos entender e se horrorizar.

Alex, além de ser um jovem sociopata, assim como todos os jovens da Londres futurista de Burgess, não têm motivação nenhuma na vida. Ele vive a sua juventude sem se questionar sobre o seu futuro. Ele não pensa sobre o governo totalitário do país. Não há nada que o motive, a não ser a mais vazia ultraviolência horrorshow. O seu comportamento é reflexo da sociedade em que vive. Os seus pais não ligam para a sua educação, a polícia do estado é muito violenta e ninguém quer nada além de uma vida fácil e medíocre.

Ao cometer um crime perverso, Alex é preso. Os seus druguis da gangue o abandonam e ele não passa no reformatório, vai direto para a prisão, onde homens mais velhos e mais violentos estão presos há muito tempo. Lá, Alex é submetido a Técnica Ludovico, um tipo de técnica que promete mudar para sempre o comportamento violento de uma pessoa.

Análise de Laranja Mecânica:

Alex é fruto do meio em que vive. Ele é construído e corrompido pela sociedade e seus comportamentos são reflexo do meio. Alex se encontra em uma Inglaterra onde as pessoas não têm perspectivas e as suas vidas estão nas mãos do governo. A sociedade de Alex não se importa mais com a cultura e educação. É uma sociedade cheia de modismos e mentes vazias.

Logo, adolescentes que são indivíduos em formação, crescem violentos, usam drogas, não possuem bons sentimentos ou arrependimentos. Esses jovens dessa sociedade distópica, não possuem objetivos na vida. Não há desafios que os estimulem. Alex narra que tudo era tão fácil, como tirar doce de uma criança. A violência gratuita se tornou uma espécie de escape.

Podemos comparar a realidade de Alex, com a realidade das gangues no Brasil. Jovens esquecidos pelo país, sem nenhuma perspectiva

Alex é um indivíduo perverso por si próprio ou as circunstâncias que o rodeiam o transformaram no que ele é?

Alex não frequenta a escola, os seus pais trabalham o dia inteiro, são ausentes em sua educação. Alex nem se esforça para mandar nos pais, os dois obedecem o filho e ainda se dopam para não pensar sobre o que o filho pode estar fazendo. Os pais de Alex não se importam. Alex nunca teve ninguém para te ensinar sobre princípios, ele aprende a se cuidar sozinho e cria as suas próprias regras.

A sociedade opressora que ele vive, não o desencoraja a praticar a ultraviolência. Muito pelo contrário, Alex se torna a representação da própria realidade social e toma o papel para si de líder opressor, dentro da sua própria gangue. Ele é um líder perverso, reflexo da sociedade em que pertence.

Quando Alex é submetido a Técnica Ludovico, ele é mais uma vez ajustado aos moldes sociais. Com o objetivo de eliminar o comportamento violento, a Técnica Ludovico tem como objetivo causar mal-estar cada vez que Alex sentisse vontade de cometer violência, tirando a liberdade individual de escolha.

Alex se torna uma celebridade e também um peão exclusivo do estado. A sua imagem de delinquente restaurado é usada para manipular a sociedade através da mídia. Ao mesmo tempo que os grupos que são contrários ao governos, também abusam de Alex. No final, o governo atual consegue prevalecer no poder, com ajuda de Alex, que não entende nada de política e não têm outros desejos e objetivos na vida além de uma vida fácil.

Alex mais adulto, pensa que a violência não têm mais sentido quando cresce e deseja formar uma família assim como outros homens da sua idade. Ele se dá conta que a sua realidade está longe de acabar e que talvez até mesmo os seus filhos e netos serão cada vez mais violentos naquela sociedade.

Ele, assim como todos, são uma laranja mecânica.

0 Comments