[Resenha] E não sobrou nenhum, Agatha Christie - A autora traz um conflito repleto de desconfianças e no envolvem em uma trama de mistério investigativo

by - janeiro 18, 2022

Livro: E não Sobrou Nenhum 

Autor(a): Agatha Christie

Editora: Globo Livros

Sinopse: Uma ilha misteriosa, um poema infantil, dez soldadinhos de porcelana e muito suspense são os ingredientes com que Agatha Christie constrói seu romance mais importante. Na ilha do Soldado, antiga propriedade de um milionário norte-americano, dez pessoas sem nenhuma ligação aparente são confrontadas por uma voz misteriosa com fatos marcantes de seus passados.

Convidados pelo misterioso mr. Owen, nenhum dos presentes tem muita certeza de por que estão ali, a despeito de conjecturas pouco convincentes que os leva a crer que passariam um agradável período de descanso em mordomia. Entretanto, já na primeira noite, o mistério e o suspense se abatem sobre eles e, num instante, todos são suspeitos, todos são vítimas e todos são culpados.

É neste clima de tensão e desconforto que as mortes inexplicáveis começam e, sem comunicação com o continente devido a uma forte tempestade, a estadia transforma-se em um pesadelo. Todos se perguntam: quem é o misterioso anfitrião, mr. Owen? Existe mais alguém na ilha? O assassino pode ser um dos convidados? Que mente ardilosa teria preparado um crime tão complexo? E, sobretudo, por quê?

São essas e outras perguntas que o leitor será desafiado a resolver neste fabuloso romance de Agatha Christie, que envolve os espíritos mais perspicazes num complexo emaranhado de situações, lembranças e acusações na busca deste sagaz assassino. Medo, confinamento e angústia: que o leitor descubra por si mesmo porque E não sobrou nenhum foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos.


"Havia qualquer coisa de mágico numa ilha, a simples palavra sugeria fantasia. Perdia-se o contato com o mundo uma ilha era um mundo próprio, um mundo à parte. Um mundo, talvez, do qual nunca poderemos regressar."


E não sobrou nenhum começa com o encontro de dez estranhos em uma ilha isolada, a Ilha do Soldado, a convite de um anfitrião. Todos eles estão lá por um motivo e todos escondem segredos.

Há diversos boatos sobre o anfitrião chamado Mr. Owen, dono da Ilha do Soldado, mas ninguém de fato sabe quem é o novo dono, e cada personagem foi convidado por motivos diferentes, como a passeio, a trabalho etc.

A autora nos apresenta a Philip Lombard, Vera Claythorne, Justice Wagrave, Emily Brent, Anthony Marston, William Henry Blore, General Macarthur, Dr. Amstrong, Thomas Rogers e Mrs. Rogers. Todos têm personalidades diferentes e desconfianças. Juntos em uma casa no meio da ilha, eles acreditam que irão conhecer o seu anfitrião Mr. Owen. Todos o conhecem por um nome diferente, e nenhum dos dez presentes jamais se encontrou com o dono da Ilha do Soldado. 

Na casa, eles encontram dois empregados que pertencem ao grupo, Thomas Rogers e Mrs. Rogers, que assim como todos, receberam cartas com instruções precisas do que deveriam fazer. Além de encontrarem dez soldadinhos de porcelana na mesa.

A autora introduz sobre cada  um dos indivíduos que foi convidado inesperadamente para a Ilha do Soldado, e nós leitores ficamos intrigados com as circunstâncias misteriosas desse convite. 

Em seus quartos, os convidados encontram o poema “E não sobrou nenhum” e ficam intrigados.


Poema ‘E Não Sobrou Nenhum’


Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;

Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;

Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão passear e comprar chiclete;

Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.

Sete soldadinhos vão rachar lenha, mas eis;

Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;

A abelha pica um, e então sobraram cinco.

Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;

Um ficou em apuros, e então sobraram quatro.

Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez;

Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três. 

Três soldadinhos passeando no zoo, vendo leões e bois;

O urso abraçou um, e então sobraram dois.

Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum; 

Um deles se queimou, e então sobrou só um. 

Um soldadinho fica sozinho, só resta um;

Ele se enforcou, 

E não sobrou nenhum.


Logo na primeira noite, todos ouvem acusações de crime contra todos os 10 hóspedes, através de um sistema de áudio instalado na casa. E com isso, todos eles ficam inquietos e apreensivos, querendo sair imediatamente da Ilha do Soldado. Todos os crimes foram cometidos no passado e não há mais a possibilidade de serem julgados pela justiça. Todos os dez convidados se sentem injustiçados pelas acusações e acreditam que não devem ter a sua moral questionada. A narrativa é contada em terceira pessoa, e podemos entender a perspectiva de todos os personagens, os seus medos e um pouco do seu passado.
 
Diante disso, a primeira morte acontece e a autora nos apresenta um ambiente de tensão e desconfiança entre os nove companheiros restantes. Além da ilha ser isolada de tudo, é preciso de uma balsa para sair de lá, ao mesmo tempo que está ocorrendo uma tempestade. Os convidados são obrigados a permanecer na ilha, até que o tempo melhore e alguém venha resgatá-los.  
 
Eles se dedicam a resolver o mistério por traz do assassinato, cada um possui uma teoria, e todos se dedicam a resolver o mistério de acordo com os conhecimentos das suas profissões.
 
Agatha Christie consegue criar uma aura de mistério, confusão e desconfiança. O leitor não tem ideia de quem é o assassino, e é impossível não desconfiar de todos. E não sobrou nenhum é um daqueles livros que você só descobre o vilão no final. Agatha Christie não deixa nenhum rastro.
 
Ainda por cima, a forma como as mortes são apresentadas, são parecidas com as descrições do poema dos soldados. No final, quando descobrimos quem é o assassino, tudo se encaixa.
 
Em “E não sobrou nenhum”, Agatha Christie nos envolve em uma leitura investigativa, e mostra como o medo pode influenciar o comportamento humano. Não só o medo da morte, mas o medo de ser descoberto, pois todos os personagens possuem segredos de crimes que não gostariam de ser revelados. Todos desconfiam um dos outros e viram-se uns contra os outros, por estarem aterrorizados. Como eles preferem não confiar em ninguém, o assassino se aproveita da situação e consegue cometer os crimes mais facilmente. Cada vez que um personagem morre, um soldadinho de porcelana desaparece, adicionando mais crise ao conflito.
 
Esse livro fez tanto sucesso que já ganhou várias adaptações, sendo a adaptação mais recente a minissérie produzida pela BBC.



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